31 de jul. de 2010

A importância das avós

Ponto de vista: Stephen Kanitz

"Se você acha que a menopausa vai diminuí-la, que você será menos mulher, fique tranqüila.
Você estará é passando para um estágio superior, você estará transcendendo"


A menopausa é um período de mudanças e de reflexão. Algumas mulheres a vêem negativamente, pois ela marca o fim da capacidade de reprodução, outras a vêem como uma bênção. Na nossa cultura tradicional, o fim da maternidade é como se fosse o fim da função primordial da mulher, algo injusto e incorreto.

Até recentemente, a menopausa era considerada um paradoxo genético, por ser um gene ou conjunto de genes que reduzia o número de filhos que uma mulher poderia ter. Uma mulher que tem seis ou sete filhos até morrer deixará mais descendentes do que uma mulher que deixa somente cinco, devido ao fim da ovulação.

Mas na espécie humana ocorreu justamente o contrário. As primeiras mulheres a transmitir o "gene" da menopausa deixaram muito mais descendentes, algo muito intrigante. Na realidade, a menopausa foi uma evolução positiva para a mulher e para a humanidade, porque basicamente ela tem a função de transformar uma mãe em uma avó. A menopausa, ao contrário de ser uma falha, deveria ser considerada uma evolução importante da espécie humana, ao lado da postura ereta, do uso do polegar, do desenvolvimento da linguagem e do descobrimento do fogo. Com o aumento do período de maturação das crianças, as mulheres passaram a ficar cada vez mais assoberbadas com cada filho adicional. Por isso, o surgimento de uma outra mulher para ajudar foi uma enorme evolução, já que os homens desde o início da humanidade não se preocupavam tanto com crianças.

Mesmo que naquela época as avós morressem cedo, poucos anos após a menopausa, uma diferença de cinco anos já garantia uma vantagem genética significativa.

Essa hipótese da importância das avós, levantada por C.G. Williams em 1957, é contestada por muitos, e provavelmente nunca saberemos o que de fato ocorreu. Uma possibilidade é que essas avós tenham passado a exercer a função de babás das crianças mais velhas, sem sair da caverna, protegendo os netos dos leões. Os sintomas de calor que vêm com a menopausa, especialmente no sufocante continente africano, podem ter sido uma forma de obrigá-las a ficar estacionárias. O mesmo teria ocorrido com os sintomas da osteoporose, que reduzem rapidamente a mobilidade da mulher.

Parte do nosso sucesso como humanos é devida ao surgimento das avós, ao seu carinho e dedicação altruísta ao ajudar as filhas na dura tarefa de criação dos netos. Por essa razão, mulheres que desenvolveram a menopausa tiveram mais netos do que as mulheres que reproduziram até morrer, e netos com mais chances de sobreviver. Sem avós, eles estariam perdidos.

Muitas mulheres que se sentem desconfortáveis com a inevitabilidade da menopausa esquecem as raízes genéticas do processo e o recado que ele traz. A menopausa é o sinal de que chegou o momento de se preparar para ser uma avó carinhosa e prestativa, como antigamente. Homens não desenvolveram o gene da menopausa. A tão falada andropausa necessariamente não gera um avô. Não tira a capacidade de reprodução, não os obriga a uma pausa e à reflexão. Em vez de assumirem a função de avôs, muitos homens decidem ser pais novamente com uma nova mulher. Perde o novo filho, que não terá um avô, muitas vezes já falecido. Ou talvez ganhe mais um avô do que um pai, embora a maioria não aceite essa visão. Alegam que não estão envelhecendo, nós é que vivemos com a mesma mulher. Perdem também os netos do primeiro casamento, que não terão o avô presente como os avôs de antigamente.

Na mulher, a menopausa deixa essa questão bem clara, sem dúvidas ou interpretações. Ela passa a ser avó, o que de fato é uma transição, mas uma transição para melhor. Se você acha que a menopausa vai diminuí-la, que você será menos mulher, fique tranqüila. Você estará é passando para um estágio superior, você estará transcendendo. Passará a ser uma avó, cujo surgimento foi um dos eventos mais importantes que a espécie humana produziu, e uma das razões de nosso sucesso como espécie.

Só temos a agradecer o surgimento das avós, que cuidaram de nós com carinho e dedicação, em vez de cuidar de mais uma penca de filhos próprios. Nosso muito obrigado a elas.

Stephen Kanitz é formado pela Harvard Business School (www.kanitz.com.br)
Fonte: www.srcoronado.com

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